@PHDTHESIS{ 2025:1209233571, title = {¨Se tem o turismo, pra que se matar fazendo roça?¨ Dinâmicas de trabalho no turismo em comunidades ribeirinhas da RDS do Uatumã/Amazonas}, year = {2025}, url = "https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/11154", abstract = "Nas últimas décadas, o turismo consolidou-se como uma das principais estratégias associadas ao chamado “desenvolvimento sustentável” em áreas protegidas da Amazônia. Sob esse discurso, políticas públicas passaram a fomentar atividades turísticas como alternativa econômica para comunidades tradicionais, sem, contudo, considerar plenamente suas especificidades territoriais, modos de vida e formas de trabalho. Partindo desta constatação, a pesquisa tem como objetivo central compreender as dinâmicas de organização do trabalho no turismo de pesca e as alterações que ocasionam nos modos de vida ribeirinhos e na regulação do metabolismo social na Comunidade Bela Vista, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (RDSU). No plano metodológico, adotou-se uma abordagem qualitativa, norteada pela perspectiva crítica. Realizaram-se dois trabalhos de campo empírico na RDSU, em 2022 e 2023, envolvendo conversas informais, entrevistas narrativas e semiestruturadas com os trabalhadores do turismo, moradores da comunidade e representantes de instituições do terceiro setor atuantes na região. A observação do cotidiano de vida e trabalho durante a temporada de pesca esportiva, aliada aos registros em caderno de campo, forneceu dados relevantes para a composição da análise. Os achados revelam que o turismo de pesca, longe de oferecer uma solução harmoniosa entre conservação ambiental e desenvolvimento local, opera como um mecanismo de reconfiguração territorial que impõe novas hierarquias, dependências e formas de exploração. Os trabalhadores ribeirinhos são inseridos em circuitos econômicos marcados pela informalidade, subordinação e ausência de direitos trabalhistas. A retórica institucional da sustentabilidade encobre a lógica da mercantilização da natureza e da cultura. Nesse cenário, a figura do “estranho” — como a Usina Hidroelétrica de Balbina, a institucionalização da RDSU e o próprio turismo - introduz lógicas e expectativas alheias ao território, interferindo nas formas de organização comunitária e reconfigurando os modos de vida locais em função das demandas do mercado e das políticas públicas. Embora legitimadas pelo discurso do desenvolvimento local e da conservação, tais intervenções frequentemente reforçam assimetrias históricas e promovem uma colonização simbólica dos saberes e práticas locais. A pesquisa contribui teórica e empiricamente para o debate sobre turismo, trabalho e conservação na Amazônia ao evidenciar como o suposto modelo de sustentabilidade turística promovido na região é ancorado em dispositivos neoliberais de gestão da vida e do trabalho. Ao revelar como políticas públicas e lógicas de mercado se entrelaçam para moldar subjetividades empreendedoras e reforçar estruturas de dependência, a tese propõe uma reflexão crítica sobre os sentidos do trabalho, da natureza e da participação nos projetos de “desenvolvimento” impostos às comunidades tradicionais amazônidas. Conclui-se pela construção de formas de governança territorial e de políticas públicas que reconheçam a centralidade do trabalho, da justiça social e da autodeterminação das comunidades tradicionais no enfrentamento das desigualdades socioambientais que marcam a Amazônia. Nesse sentido, o turismo de base comunitária e as experiências de economia solidária despontam como alternativas capazes de tensionar a lógica vigente, ao valorizar saberes locais, fortalecer a autonomia comunitária e favorecer novas formas de regulação do metabolismo social da natureza.", publisher = {Universidade Federal do Amazonas}, scholl = {Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia}, note = {Centro de Ciências do Ambiente} }